Eu, meu pai e meus irmãos numa festa junina em casa.
Sua alegria era contagiante!
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Olá meninas!
Desculpem-me o sumiço, pois prometi aparecer no blog de vocês.
Ocorre que estava cuidando para dissipar a tal "nuvem negra" que comentei na postagem anterior... Não consegui entrar no blog, estava muito fragilizada e começando a fechar as portas e janelas da minha alma. Quando chega nesse ponto, tenho de parar tudo, ficar quietinha no meu canto, aprumar o eixo, tapar os ouvidos para o canto doce da sereia, encontrar a bússola e remar novamente para o continente...
É difícil sim, mas acho que, devagarinho, eu espantei a nuvem negra - ao menos por enquanto, pois é certeza que voltará.
Foi interessante e reconfortante ler tantos comentários carinhosos assim, eu me emocionei. E por email também recebi muito carinho. A todas vocês, amigas antigas e novas, meu agradecimento eterno.
O mais interessante foi descobrir que não estou só, que muitas mulheres que aqui frequentam passam ou passaram pela mesma miséria emocional que a minha.
Só quem sofre ou sofreu deste mal sabe que é uma penúria, é um encarceramento, é ver a vida passar entre seus dedos como areia fina sem que se tenha forças para impedir, é a ausência absoluta de prazer, é uma quase morte em vida.
Mas a minha persistência, aliada à amizade de todas vocês, me fortalece. E, para tanto carinho e afeto, não há palavras à altura.
Sei que muitas vezes fujo do tema proposto inicialmente neste blog, mas me faz muito bem desabafar e, sempre que puder, trarei aqui meus sentimentos mais profundos.
E, hoje, é mais um deles.
Dia 28/02/1933: o dia em que meu pai nasceu, o dia em que sempre foi festa na família.
Hoje meu pai faria 77 anos e este é o segundo aniversário sem ele. A semana inteira meus pensamentos estiveram com ele, lembrando de sua gargalhada deliciosa, de seu bom humor, de suas piadas ingênuas, de seus momentos ranzinzas, de sua eletricidade...
Um homem de fibra que foi sempre meu melhor exemplo, o Norte da minha bússola, a luz dos meus olhos, a pessoa que me entendia, me acolhia e me aceitava em todas as decisões.
Um pai verdadeiro que me encheu de mimos, de presença, de livros, de carinho, de bons exemplos, de companheirismo.
Um homem que não teve oportunidade de instrução mas que foi um sábio. Que mesmo sem saber direito quem foi Monteiro Lobato, me fazia repetir sempre as peripécias de Emília e sua turma, me fazia contar cada detalhe dos livros e sempre caía na risada, se encantava e me pedia para ler o próximo. E, na brincadeira de divertir meu pai, contei a ele a história de todos os livros do Monteiro Lobato para ele.
E, com aquele seu jeito único de incentivar os filhos, me encaminhou para o mundo da leitura. Ele sabia que a salvação estava nos livros. Ele sempre soube disso.
Em meu apartamentinho em São Paulo ele era sempre a visita mais esperada. Ia todos os anos e fazia questão de dormir lá naquele cubículo, mesmo meu irmão morando numa mansão de muitos quartos a poucas quadras de distância. Passeava por Sampa observando cada detalhe, com olhos reluzentes de encantamento.
Um homem sem instrução, mas que foi às lágrimas quando entrou pela primeira vez no MASP, extasiado por se deparar com tantas pinturas seculares, intrigado em entender como poderiam pintar tão bem gênios como Manet, Degas, Cézanne, Monet, Renoir, Van Gogh, Toulouse-Lautrec, Matisse, Modigliani...
Embaixo da carapaça de homem simples e batalhador do interior, a sensibilidade que possuía era imensa!
Minha primeira internação, depois do mal que me acometeu, ele estava presente. Foi para São Paulo e me acompanhou passo a passo. Telefonou-me todos os dias, não me abandonou um minuto sequer.
Nunca me cobrou nada depois que adoeci, me entendeu, não me julgou e me acolheu de braços abertos. E assim foi feita nossa troca: fui eu, exclusivamente, quem dele cuidou dele até o fim. E foi um prazer poder fazê-lo, poder estar ao lado dele em cada um dos momentos para diminuir a sua dor: fazendo sua comidinha preferida; enchendo sua vida de bilhetes carinhosos em todos os cantinhos da casa, do trabalho, dos bolsos e do carro; fazendo massagem toda noite para diminuir as dores; elogiando; abraçando; beijando....
E, no dia 02/07/2008, cercado de todo meu amor e devoção, ele partiu.
E foi este pai maravilhoso, a luz dos meus olhos, que deixou em meu coração a saudade que não morre e a lição de seus exemplos, que ficam e me confortam.
Obrigada, Pai.
Foto do passaporte do papai.
Estava tão feliz!
Conheceu Portugal, Espanha, França...
Tomou muito vinho, comeu bem, brincou com os netos, se divertiu...
Meus pais no dia do casamento, em 1956.
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E, para lembrar do meu amado pai, deixo com vocês a belíssima e insuperável música do russo Sergei Rachmaninoff, executada por John Barry.
Trata-se de "Rhapsody on a Theme of Paganini", mais conhecida como música tema do filme "Em Algum Lugar do Passado".
Para mim é uma das mais belas músicas já compostas...
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