"A única saída para a morte é o amor"
José Saramago
Meninas,
É difícil eu me impressionar com a morte de alguém famoso, pois sinto que tenho de ter intimidade e contato, tem que me ser íntimo. Até sinto consternação e me apiedo pela família que ficará em sofrimento, mas não tomo as dores.
Foram poucas as vezes em minha vida que, verdadeiramente, me comovi com a morte de um famoso. Talvez porque tenham sido poucos os famosos que me tocaram profundamente, mostrando de certa maneira, com suas obras, que me deixaram ser íntimo dele.
Hoje, assim que acordei, já soube da morte do escritor português José Saramago. Foi impossível conter minhas lágrimas, está sendo difícil dizer a vocês o tamanho da minha dor pela passagem desse homem que foi espetacular.
José Saramago escreveu obras monumentais e era um dos maiores representantes contemporâneos da literatura mundial e foi o único ganhador do Prêmio Nobel de Literatura da língua portuguesa.
Um escritor de origem muito humilde, nunca pode ter acesso à educação, era um autodidata. Foi marceneiro, desenhista, funcionário público e só passoi a se dedicar plenamente à literatura depois dos 45 anos.
Escreveu obras fantásticas, entre os quais cito e recomendo alguns dos que já li: O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Memorial do Convento, A Caverna, Ensaio Sobre a Cegueira, Jangada de Pedra, As Intermitências da Morte, A Viagem do Elefante, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Todos os Nomes, Ensaio sobre a Lucidez e, o último que li, Caim (uma obra que já traçava uma despedida desse mundo).
José Saramago não é para inciantes, é de escrita difícil e, à primeira leitura, impressiona: não há parágrafos, travessões, a pontuação é descompessada, nos causa falta de fôlego... É uma maneira de, logo de cara, chocar o leitor e prepará-lo para uma viagem sôfrega e cheia de energia que poderá fazer mudar definitivamente sua maneira de enxergar a literatura. Um escritor que libertou os escritores ainda presos a regras ultrapassadas...
Mas, não se engane: você será conquistada por ele logo no próximo capítulo. Renda-se a uma leitura que a levará para dentro de si mesma, que a fará questionar o mundo e sua própria vida. Aprecie metáforas belíssimas, capazes de nos fazer ficar dias e dias refletindo sobre aquela passagem...
Mas Saramago não era apenas literatura, era ideias, sonhos e realidade. Foi um dos poucos literatos que soube, como ninguém, expor nossas chagas mais profundas e apontar os culpados, que soube se posicionar politicamente num mundo capitalista avassalador e traiçoeiro.
Sempre ao lado dos fracos, oprimidos e desprovidos de ajuda humanitária, soube se opor ao regime dos EUA com uma lucidez implacável. Dono de um posicionamento firme e de personalidade incorruptível, era desses homens que fará tremenda falta aos desvalidos e aos intelectuais.
Um ser humano sensível como poucos. Em sua última passagem pelo Brasil, em 2008 na Flip de Paraty, externou toda sua dor pelas mortes causadas pela chuvas torrenciais em SC. Um homem que se senbilizou e chorou por nossos mortos, como sempre fez por outros tantos mundo afora.
E é por José Saramago que hoje choro. Um homem que ajudou a definir-me como pessoa, que me deixou ser íntima dele em suas obras, que me proporcionou belos encontros, grandes viagens, ótimas ideias e, principalmente, me fez refletir que o mundo é mais que ao meu redor. O mundo é nosso posicionamento político e de vida, é nossa luta pelos mais fracos e desprovidos e qualquer sorte.
E, se por ele choro, é porque me nego a despedir-me. Dói demais saber que ele não estará mais aqui para lutar pelos desvalidos, para apontar o dedo em riste para os culpados, para me alumiar em momentos difíceis.
Por isso digo apenas "obrigada por tudo e até logo, mestre Saramago".
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ALGUMAS FRASES DE JOSÉ SARAMAGO:
"Se eu pudesse repetir minha infância, a repetiria exatamente como foi, com a pobreza, com o frio, pouca comida, com as moscas e os porcos, tudo aquilo."
"Nada há que seja verdadeiramente livre nem suficientemente democrático. Não tenhamos ilusões, a internet não veio para salvar o mundo."
"Deus, o diabo, o bom, o ruim, tudo está na nossa cabeça, não no céu ou no inferno, que também inventamos. Não percebemos que, tendo inventado Deus, imediatamente nos escravizamos a ele."
"Há quem me nega o direito de falar de Deus, porque não creio. E eu digo que tenho todo o direito do mundo. Quero falar de Deus porque é um problema que afeta toda a humanidade."
"A globalização é um totalitarismo. Totalitarismo que não precisa nem de camisas verdes, nem castanhas, nem suásticas. São os ricos que governam e os pobres vivem como podem."
"Sim, tenho o Prêmio Nobel. E quê? Não que eu achava pouco ter o Prêmio Nobel, não, não. É que no fundo, no fundo, tudo é pouco, tudo é insignificante."
"Mas então ninguém percebe que matar em nome de Deus é fazer de Deus um assassino?"
"Agora vivemos o império do petróleo e do dinheiro - o resto é disfarce."
"Não sou pessimista. O mundo é que é péssimo."
Blog do José Saramago: O Caderno de Saramago
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Queridas:
Espero que estejam todas muito bem.
Amanhã eu voltarei.
Beijooooo
Olha só, eu nem sabia, vim saber aqui no seu blog...
ResponderExcluirEu confesso que tentei ler alguns livros dele mas não consegui passar das primeiras páginas. Prolixo demais para minha ignorância! Só gostei muito de um livro dele: O Evangelho segundo Jesus Cristo - achei sensacional!
Uma grande perda de fato, uma alma inteligente a menos neste mundo...
Bj grande
Olá
ResponderExcluirComo vc tenho uma admiração profunda por este escritor e fiz uma breve homenagem no meu blog, que já continha muitos dos seus escritos.
Enfim, é a vida. Glorifiquemos o que ele nos proporcionou, pois isto não terá um fim.
Com certeza perdemos um grande nome da literatura,mas o nome dele será um dos imortais.Bela homenagem,lindo depoimento.
ResponderExcluirBeijos,
Oi, Sil!
ResponderExcluirDo Saramago só li o Memorial do Convento, e sem dúvida, o cara é fera, inegavelmente talentoso para a palavra.
Tenho meus senões com ele por causa de questões, digamos assim, filosófico-espirituais, mas ainda bem que, apesar de todas as pedras do caminho, ele soube e pode deixar um legado literário inquestionável.
Agora, Saramago já desvendou o mistério, um dia desvendarei tb.
Que ele esteja na paz!
Beijocas,
Grande perda!!! A literatura mundial está de luto!!!
ResponderExcluirSil,
ResponderExcluirLevei um choque quando fiquei sabendo. Um a um nosso grandes nomes vão se despedindo, e infelizmente, não há outros que sigam seus caminhos. Percebo como invejável a luta de Saramago contra o capitalismo, contra o imperialismo americano, sempre se guiando pelo caminho das idéias, dos ideais e das letras.
Como você, eu sofro, postarei minha homenagem logo mais.
Beijos
Sil,
ResponderExcluirBom, tudo na vida são pontos de vista. Para quem crê em Deus, as coisas se dão exatamente ao contrário.
E, segundo tudo que aprendi, não devemos confundir a pessoa do escritor com o conteúdo ficcional de seus livros. Justamente por isso, embora a filosofia de vida pessoal de Saramago me desagrade deveras, eu aprecio o trabalho dele.
Ainda sou muito, muito mais Machado de Assis, um gênio.
Preferências, amiga, apenas preferências.
Beijocas literárias,
Ah, respondi teu e-mail, tá? Valeu pelo carinho!!
ResponderExcluirSil,que belo texto a Saramago!Homenagem merecidíssima,parabéns.
ResponderExcluirPerdemos um gênio do meio literário,tbm fiquei triste.Beijoss
Oiiii...
ResponderExcluirEstava até agora fazendo uma roupinha pro Fluke, ôba...meu amorzinho já tem uniforme da seleçao!
Vou por no blog.
Ah Silvana, você precisava ver ele paradinho fazendo a prova da roupa, um barato.
Então, a Marta não tem perfil disponível, eu respondo para ela pelo programa de email.
A Jana sumiu mesmo, também deixei recado.
Não tenho email dela.
O gatinho que eu tive andava de carona em cima do meu pé, e chupava o meu chinelo de pelo.
Gatinhos que ficaram muito cedo sem as mães tem o hábito de "fingir" que mamam em lugares macios, uma roupa ou um cobertor, outro gato...no caso, ele escolheu o Tutu, ahahah...
Mas cuidado com os dentinhos afiados do Vuvu, podem machucar o Tutu.
Não se esconda no domingo não.
Vá torcer pela seleção.
Um beijão.
Poxa Sil, você foi próxima dele mesmo.
ResponderExcluirSuas palavras mostram o quanto você o conheceu e admirou.
Eu, quase não sei nada das obras dele, mas espero, depois de suas palavras, ter o prazer de ir a fundo.
Fique bem.
Xeros!