Foto de José Mindlin em sua biblioteca
Olá Fofas! :O)
Como estão todas vocês?
Eu estou feliz, pois esse tempo fresco é a salvação para os que não se afinam com o calor dos trópicos, como eu. Ah, como detesto o calor! Isso é inexplicável... e desconfortável, pois onde quer que se vá neste país os termômetros quase sempre pululam....rs
Mas venho tratar de um assunto triste: ontem faleceu o bibliófilo José Mindlin.
Para quem não sabe, este senhor foi um dos maiores colecionadores de livros do Brasil, uma figura ímpar que amava a literatura e história brasileiras como poucos.
E, pasmem!!, tive a oportunidade de conhecê-lo em 2004.
A história é curta: eu trabalhava em um escritório de advocacia imenso em São Paulo. Eram 3 andares e 120 advogados, imaginem o fluxo!
Esse escritório tinha uma biblioteca imensa e contratamos uma bibliotecária para colocá-lo em ordem, catalogar livros novos e perdidos. Era uma imensidão de livros jurídicos.
A bibliotecária chefe contratada para os serviços, de nome Déborah, acabou se tornando minha amiga. Íamos almoçar juntas todos os dias e conversávamos sobre nosso assunto predileto (livros). O trabalho dela no escritório era tão grande que durou quase um ano!
Numa dessas conversas ela me confidenciou que participaria de uma nova catalogação da biblioteca de José Mindlin. Obviamente fiquei extasiada e louca para ter acesso àquele acervo incrível, mesmo que como penetra!
E, entre muitas histórias de idas, vindas, pedidos, implorações de joelhos, promessas e "mentirinhas do bem", acabei sendo "infiltrada" como assistente de bibliotecária naquele acervo de embasbacar qualquer leitor. Mas a promessa previa que eu só poderia ir um dia apenas.
Era uma sexta-feira quando chegamos na mansão dele. José Mindlin, que já tinha a saúde frágil, repousava no momento. Adentramos à casa (maravilhosa!) e fomos conduzidas à biblioteca.
Vocês não tem noção do que vi: simplesmente maravilhoso! E era tudo organizadinho! Pensava, com meus botões, porque será que ele precisaria de uma empresa para organizar o acervo.
Enfim, fiquei ali, de luvas cirúrgicas, folheando alguns livros.
Descobri, nessa visita de poucas horas, o que há por trás de um colecionador e de um amante de livros: o cuidado com seus tesouros ia além de qualquer coisa que pudesse imaginar!
Numa biblioteca de uns 35 mil livros na época, ele dispunha de aparelhos que retiravam a umidade do ar e refrigerava especificamente o ambiente. Também havia umidificadores para casos extremos de "seca".
Termômetros haviam em todos os cantos da biblioteca, inclusive dentro do acervo de livros raros, que ficavam dentro de uma estante envidraçada a qual não tive acesso. Haviam vários alarmes de incêncio e fumaça espalhados por todos os cantos... Impressionante!
E todos os livros do acervo eram verificados manualmente, um a um, para evitar a contaminação por pestes como traças, fungos, formigas e cupins. A aspiração do ambiente era feita 3 ou 4 vezes ao dia...
O cuidado que se tem é algo inimaginável. Não é apenas jogar um livro na prateleira: é a organização, é a catalogação, é a limpeza, é o cuidado constante pela "saúde" do livro.
E isso José Mindlin cumpria com louvor e prazer, sem medir esforços ou economias.
Depois de umas 4 horas que estávamos lá, surgiu na porta um senhor alto, simpático e de voz muito suave, que se apresentou e disse: "Olá! Vocês estão bem? Acharam algo de errado nos livros? Está tudo bem?"
Tinha as mãos bem macias, disso me lembro bem. Macias, suaves e um pouco frias. Mas a sua conversa era quente quando se falava em livros.
Ficou ali um tempo (eu tremendo diante do deus Mindlin, como sonhava em conhecer aquele homem que guardava com tanto amor a história do Brasil), o mordomo nos serviu café e lanche, comemos e ele travou um papo longo com a Déborah - e eu, bisbilhoteira, pertinho ouvindo tudo...rs
Falou de seu seu notório amor pelas belezinhas, de sua predileção pelos livros históricos e por Machado de Assis, dos medos pelo cuidado com o acervo...
E assim ficamos até umas 21hs, quando saí de lá extasiada, impressionada e calada.... Não havia palavras para descrever o acervo ou a delicadeza daquele tiozinho doce, simpático e inteligente.
Olhei para a Déborah e lhe tasquei um abraço e um beijão! Agradeci quase que de joelhos a oportunidade ímpar que ela me proporcionou...
Anos já se passaram desde aquele dia e nunca me esqueci do acervo reluzente, do tiozinho doce, de suas mãos macias, de sua conversa agradável, de seu amor incondicional pelos livros, de seu otimismo pelo futuro do nosso país.
E ontem José Mindlin nos deixou. Descansou, porém o legado de sua luta, que começou quando ainda era um adolescente de 15 anos, permaneceu.
Hoje são 40 mil livros, entre eles os mais raros do Brasil. Um acervo gigantesco, bem cuidado, amado e folheado pelas mãos macias do senhor simpático e generoso que conheci.
O acervo foi doado à USP e quem um dia folhear tais preciosidades, estará tocando as mãos macias e delicadas de Mindlin, tocando sua coragem, sua galhardia e seu trabalho hercúleo de muitos anos de luta pela preservação e memória do nosso país.
O Brasil agradece sua luta!
Descanse em paz, Senhor José Mindlin!
PS: Quer conhecer José Mindlin? Leia os livros que ele publicou!
A relação se encontra em O Livreiro, basta clicar aqui.
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Frédéric Chopin
E hoje, coincidentemente, comemora-se os 200 anos de Chopin!
E nada mais justo que homenagear José Mindlin com Chopin, não é mesmo?
E nada mais justo que homenagear José Mindlin com Chopin, não é mesmo?
A música para piano sofisticadamente elaborada de Chopin é reputada por seu lirismo, pureza e encanto delicado.
Todas as músicas de Chopin incluem piano, e a maioria delas é apenas para esse instrumento, ao qual dedicou toda sua imaginação criadora. Segundo Roberto Minczuk, Chopin dá voz ao piano. Por meio de suas notas, ele foi capaz de materializar sentimentos que o público até então desconhecia.
Deixo com vocês o pianista Yuindi Li interpretando brilhantemente "Fantasie", do inesquecível Frédéric Chopin.
Um deleite, um primor, uma coisa dos gênios!
Aproveitem!
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Meninas queridas:
Tenham todas um lindo dia!
Recebam todo meu imenso carinho por vocês!
Beijooooooooo
Oi Silvana!
ResponderExcluirLindo post, como todos que vc faz! Parabéns.
Quer dizer que meu pão foi aprovado?...rsrsrs. Beijos.
Olá! Bom dia!
ResponderExcluirRealmente foi uma perda, mas ele foi em paz e acredito eu, com a sensação de dever cumprido.
Eu não sei fazer o que vc falou (lista de seguidores?). Qdo puder, me ensine...
bjs
Ai Sil, adorei isso. Se estou no seu lugar me dá até um troço .... kkkk
ResponderExcluirMas, do jeito que estou gastando meu salário com livros, vou ter que fazer como ele nos cuidados affffff, não tenho mais onde colocá-los ... mas não paro, quero mais kkkkkk
Beijos
meumundocordeabobora.blogspot.com
Olá Sil, sou apreciadora de músicas clássicas.
ResponderExcluirAcredito que José Mindlin, cumpriu perfeitamente seu papel aqui.
E Chopin é eternamente muito bommmmm!
Xeros!
Ai Sil fiquei aqui babando mesmo lendo tudo que vc escreveu sobre preservação de acervo que é aminha praia. O que faço todos os dias, claro que com muito menos recursos. Adorei o presente ( realmente se senti recebendo um presente ao ler o post). Bjs
ResponderExcluirSilvana, saudades sempre de ler seus textos. sempre que venho aqui tenho surpresas. Hoje li emocionada tua luta contra esse mal que atinge, li sobre teu pai, da imensa saudade, e hoje da grande honra de ter conhecido pessoa tão ilustre como Mindlin.
ResponderExcluirHoje te conheci melhor, entendi pq uma advogada que me parecia ser brilhante abandona a cidade e se refugia no interior.
Vc tem uma luta bastante dificil pela frente mas é guerreira e vai conseguir, os animais são companhias maravilhosas , tenho a certeza de que vai sair dessa e como vc disse , esse mal não te pertence, sai desse corpo hehehee. Bjs querida e muita luz em teu caminho, te adoro!!
Que história linda!!! A dele e a sua, amei!
ResponderExcluirBjs♥
Sil, bom dia!
ResponderExcluirAhá, garota esperta, gostei da tua experiência como penetra na biblioteca do sr Mindlin, ainda bem que vc não perdeu a oportunidade, tá certa.
Mas será que esse acervo não será digitalizado? Sei que a Biblioteca Nacional aqui no Rio tem digitalizado o acervo, pelo menos é o que consta.
Uau, Machado de Assis e Chopin são duas de minhas maiores paixões, a-mo, essa Fantasia Improviso eu escutava demais na adolescência, ainda tenho o disco, de vinil, é claro, era do meu pai. E as obras do Machado herdei tb, em edição de 1952, papel velhinho, não dá pra ter essa conservação sofisticada como a do Mindlin, rs, mas posso sempre curtir o Brás Cubas e o lelé do Bentinho, e me deliciar com os contos. Vc leu a Sereníssima República? Tão atual, Machado é gênio!
Com certeza, o tiozinho doce está chegando no céu, cumpriu a vida com sabedoria, né?
Bem, vou explicar, é fácil: quando Daniel nasceu eu estava com 26, ele está com 22, eu agora estou com 48, viu como é simples? Sou coroa, Sil, é isso, kkk
Obrigada pelo carinho, tamos aí pro q der e vier, beijoquinhas,
Que delícia a história do Sr Mindlin, vc teve de fato uma oportunidade de ouro de conhecer pessoa tão singular!
ResponderExcluirAh, eu tb sou apaixonadíssima pelo velho bruxo do cosme velho!!!
Bjks e obrigada pelas histórias lindas que vc divide conosco!
SIL QUE VIDA LINDA ESSE SR FEZ AQUI NA NOSSA TERRINHA, AMIGUINHA , AMEI O CONVITE MAS ESTE DOMINGO IREI TRABALHAR DAS 16:00 AS 22:00H ESPERO QUE LOGO, LOGO, SURJA MAIS OPORTUNIDADES,MUITO OBRIGADA POR SE LEMBRAR DE MIM, BEIJOCAS!!!!
ResponderExcluiroi sil! que história linda - adoraria ter entrado neste acervo - que sorte te-o conhecido e folheado os livros - adoraria tb um dia ter uma biblioteca pequena em casa - porque os livros vão se acumulando - não posso ver um que teho qe comprar-
ResponderExcluirbjs
lú
Oiê Sil...
ResponderExcluirMenina cada paragrafo que eu lia estava sentindo a sua empolgação diante dos livros e do mestre, adorei! Imagino o quanto deve ter sido único.
Amiga, já tenho o horário da prova do Marcelo, será as 13:00h, mais vamos chegar de manhã pq ele não sabe onde fica o colégio e quer procurar. Ficou de me passar o endereço e ver se você pode dar algum ponto de referência pra ele se localizar, pq nunca fomos para Marilia, eu já passei mais não sai da rodoviária.
Obrigada por todo carinho, por essas e outras e que te adoro tanto.
Bjos e fique com Deus.
Oi Silvana querida,que lindo post,cheio de emoção como todos os seus posts.
ResponderExcluirLi também o outro post em que você desabafa...sabe que desde o inicio eu já imaginava isso...
Eu mesma vivo em luta constante para não cair em depressão,já conheço os sintomas e quando percebo que eles estão me rondando,trato logo de me cuidar,e eu tenho um grande aliado contra este mal:"Deus".
Sabe,se não fosse Deus em muitos momentos da minha vida,eu acho que teria me tornado depressiva à muito tempo...
É Deus quem me fortalece,me enche de alegria que só Ele pode dar,mesmo na adversidades.É assim que estou superando o fim do casamento da minha filha,que foi um baque para mim.
Os motivos de cada um,que leva a uma tristeza
profunda,que se não for tratada,leva a
depressão são diferentes,e o tratamento com medicamentos são necessários sim para tratar o físico,mas a alma só Deus pode tratar,
esses vazios,essas lacunas não podem ser preenchidas por remédios ou pessoas,só por Deus.
Deus te abençoe amiga,beijos.
"Vinde a mim,todos os que estais cansados e sobrecarregados,e eu vos aliviarei.Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim,porque sou manso e humilde de coração;e achareis descanso para a vossa alma.Porque o meu jugo é suave,e o meu fardo é leve."
Mateus 11:28-30
"Mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças,sobem com asa como águias,correm e não se cansam,caminham e não se fatigam."
Isaías 40:31
Com carinho
Edna