Notícias da minha Mãe

Foto do meu pai e da minha mãe, Maria de Lourdes, no dia do casamento, em 1956

Olá Amigas!

Espero que todas vocês estejam muito bem.

Venho agradecer o imenso carinho que recebi de todas. Foram muitos comentários que, antecipo, não poderei responder - ao menos por enquanto. Peço que me desculpem, mas ando a milhão em pensamento e em afazeres.

Minha mãe teve alta da UTI no sábado à tarde. Ficamos aliviados, afinal o risco iminente de novo AVC sucumbiu.

Porém, o calvário mal começou para todos nós...

Minha mãe continua acamada, sem movimentos do lado direito. Agora sabemos que ela ouve e enxerga um pouco. O médico também disse que ela sente o pé direito, o que é bom para saber se houve uma lesão mais profunda.

Amanhã ela fará uma outra tomografia para termos certeza do tamanho da lesão no cérebro, pois como disse o médico, isso é bem demorado. Somente após uns 4 dias depois do AVC é que a lesão aparece na tomografia com maior nitidez. Esse tempo é necessário.

O médico disse também que dará alta nesta semana, pois há sempre um grande risco de infecção hospitalar, ainda mais em uma senhora de 72 anos.

Já corremos atrás de enfermeiras para o dia e para a noite. A enfermeira do dia é nossa vizinha, Ivone, mora em frente de casa, já é uma senhora de quase 60 anos, mas muito forte e bem disposta. E o legal é que ela sempre foi amiga da minha mãe, coisa de mais de 20 anos....

A enfermeira da noite, Maria, é ainda jovem, uns 45 anos. Também mora aqui no bairro e era colega da minha mãe, sempre batiam papo no nosso mercado. Ela já é cuidadora de uma idosa durante o dia e disse que dará conta do recado de cuidar da minha mãe durante a noite.

Neste primeiro emprego ela é registrada. Como não entendo da área trabalhista, não sei se devo registrar quem já tem outro registro em carteira. Alguém sabe me responder essa questão? Eu agradeço desde já a resposta de vocês. Amanhã correrei atrás disso...

Bom, minha mãe morava sozinha há muitos anos (era separada do meu pai). Mas, desde a sepração, sempre morou sozinha nos fundos da minha casa, uma edícula muito grande e confortável (uns 80 metros quadrados) e meu pai morava na frente. Uma separação "sui generis", pois eram co-dependentes...rs

Nestes últimos dias me enfurnei lá preparando a casinha para recebê-la. Gente, como é difícil mexer na intimidade de alguém - mesmos sendo nossa própria mãe! Descobri que ela guarda muitas coisas dos filhos, até alguns de nossos brinquedos de infância, meus primiros bordados feitos quando criança, minhas calcinhas infantis e até minha toalhinha de banho... Vimos convites de nossas formaturas, fotos, muitas roupinhas, muita coisa mesmo. Deu um aperto muito grande no coração saber de todo esse zelo que, mesmo com as limitações da idade dela, deixou tudo bem conservado e guardado.

Eu, minha cunhada Beth e mais uma funcionária (Lúcia), tivemos muito trabalho para dar conta de tudo: encaixotar o que ela não usará tão cedo, higienizar todos os ambientes, tentar adequar espaços para locomoção de cadeira de rodas, ajeitar o banheiro, guardar jóias e outros objetos de valor etc.

Agora vamos correr atrás de aluguel de cama hospitalar, assim como de cadeira de rodas e de banho.

Será muito triste ver diariamente minha mãe tão dependente, justo ela, sempre tão forte e resistente a tantas intempéries.

No primeiro dia em que vi a enfermeira colocando fralda geriátrica nela caí em prantos... A gente nunca quer imaginar isso de quem já foi um rochedo de Gibraltar, uma grande fortaleza, uma mulher que não pegava nem resfriado...

Mas nestes últimos dias vi uma coisa muito linda, e acho que ela também deve ter percebido: os 5 filhos unidos com o objetivo de dar o melhor a ela.

Eu e meus 4 irmãos estamos nos desdobrando, inclusive financeiramente, para darmos o melhor a ela.

Infelizmente sei que a vida dela nunca mais será a mesma. Haverá muitas limitações, as consequências de um AVC são desconhecidas até pelos médicos.

É muito triste saber que aquela mulher forte não voltará mais pra casa, que no lugar dela virá uma mulher totalmente dependente e vulnerável. Mas esses desígnios não competem a nós, pobres mortais. Temos de nos conformar.

O que fica são as lições dos exemplos de uma mãe forte e guerreira. Exemplos que nos confortam e nos dão força por um zelo maior ainda por essa brilhante mulher.

Queridas, muito obrigada por tudo, de coração.

Tenham uma ótima semana.

Beijoooo

Mais de 30 anos depois...

Foto dos meus pais, no final dos anos 80.