Capa do livro biográfico de Lota e Bishop
"A arte de perder não é nenhum mistério;/ tantas coisas contêm em si o acidente/ de perdê-las, que perder não é nada sério".
Elizabeth Bishop (1911-1979), in "One Art"
Olá Fofas de Plantão!
Estão todas bem? Espero que sim.
Faz tempo que não falo de livros por aqui, né?
Estava relendo uns poemas esta semana e me lembrei do centenário de nascimento de uma das maiores poetisas de língua inglesa do século XX: Elizabeth Bishop.
Eu sempre admirei mulheres fortes, que marcaram seu tempo de alguma forma, seja na arte, no comportamento, na inovação da escrita. E é atrás da biografia e da história de vida delas que muitas vezes vou: Madame Curie, Ágatha Cristhie, Simone de Beauvoir, Tarsila do Amaral, Pagu, Silvia Plath e muitas outras.
Para quem não sabe, Elizabeth Bishop nasceu nos EUA em 1911 e foi vencedora de um dos prêmios de literatura mais importantes do mundo, o Pulitzer. Um grande feito para uma mulher com um histórico de vida tão sofrido: criada sem os pais (a mãe morreu em manicômio), educada por parentes frios e severos, portadora de grave doença respiratória, discriminada por sua opção sexual (era lésbica assumida). Tudo isso levou a se tornar alcóolatra e, posteriormente, depressiva.
A vida dela não foi fácil e, para esquecer tantos apuros do passado e do presente, resolveu, no início dos anos 50, fazer uma viagem à América Latina. Desembarcou no Brasil e aqui ficou por mais de 15 anos. Morou em Petrópolis, Rio e Ouro Preto.
Aqui no Brasil manteve um relacionamento amoroso de 15 anos com uma famosa paisagista e urbanista, a Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, mais conhecida como Lota de Macedo Soares.
Lota de Macedo Soares foi muito famosa na época, uma das responsáveis pela construção do Parque do Flamengo, localizado na cidade do Rio de Janeiro e que é o maior aterro urbano do mundo.
Deste namoro com Lota e também com o Brasil, Bishop teve uma de suas fases como escritora mais produtiva, pois quando recebeu o prêmio Pulitzer ela já morava há 5 anos no Brasil. Em seus poemas sempre há pinceladas do nosso país, da história daqui, do seu amor com Lota, de sua perda.
Infelizmente, o relacionamento de ambas não ficou bem resolvido. Por volta de 1966 Bishop rompe com Lota e retorna aos EUA. O motivo seria o fato de Lota não conseguir se recuperar de uma grave depressão.
Em 1967, ainda separadas, Lota resolveu viajar para Nova Iorque para se encontrar com Bishop. No mesmo dia em que chegou, abalada com seu relacionamento com Bishop, sua companheira encontrou-a caída na cozinha com um vidro de antidepressivo nas mãos. Lota suicidara-se.
A morte de Lota marcou para sempre a vida de Elizabeth Bishop, que a ela dedicou inúmeros poemas.
As posições políticas de Bishop e Lota no Brasil são discutíveis por diversos aspectos - afinal ambas eram amigas do Carlos Lacerda, que viria a apoiar a ditadura.
As opiniões de Bishop sobre o Brasil também eram sempre ambíguas: num momento morde, noutro assopra. Elogiava a beleza e deprezava nosso provincianismo.
Mas, inobstante tais observações que faço, a leitura de Bishop, com olhar atento e apurado, é sempre um deleite. Diria até que deveria ser uma leitura obrigatória, tamanha a singeleza de seus versos. Aliás, Bishop chegava a levar anos para terminar um poema, com o fim de encontrar a sonoridade e a rima perfeitas. Uma poetisa única, sem dúvidas.
Como muitas leitoras não sabem inglês, deixo com vocês um poema lindíssimo, já traduzido, feito para a companheira Lota e com referências claras ao nosso Brasil:
Uma Arte
A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério.
(Elizabeth Bishop; tradução de Paulo Henriques Brito)
Foto de Elizabeth Bishop no Brasil:
(com gatinho no colo e tudo...hehehe)
Foto da companheira de 15 anos, a brasileira Lota de Macedo Soares:
Agora vocês me perguntam: ué, o que faz a foto da Glória Pires faz aqui nesta postagem??
A nossa Glorinha interpretará o papel de Lota no cinema. O nome do filme? "A Arte de Perder", numa referência ao poema que Bishop dedicou a Lota.
O filme está previsto para ser rodado ainda neste ano, com direção de Bruno Barreto. Para o papel de Elizabeth Bishop estão sendo cotadas as atrizes Amy Irwing e Jodie Foster. Eu gostaria que fosse Julianne Moore , pois eu a adoro.
Vamos aguardar e torcer para que seja rodado logo, pois será um grande filme!
Glorinha, nossa Lota de Macedo Soares:
Capa de um dos livros de Elizabeth Bishop
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Queridas:
Tenham todas um excelente final de semana!
Curtam suas famílias, suas casas e seus livros!
Aproveitem para colocar a leitura em dia, que tal?
Beijooooo